E mais uma vez você passa e não me vê...  

Posted by: Gabrielle Alano in

É estranho.


Desde o começo foi assim. As trocas de olhares e a incógnita. Nunca soube o que você pensava, mas até certo ponto isso não me incomodou. Tivemos nossa aproximação, mas a distância permanece. Tem dias que você chega e me perturba com seus abraços, sua respiração forte no meu ouvido, suas mãos suadas em contato com as minhas. Sinto o desejo em você e isso desperta em mim a mesma curiosidade de experimentar. Outras vezes, te vejo passar e me olhar como se não fossemos nada. E afinal, não somos.

Quando estou a sós comigo mesma você vem e me interrompe. Quando quero te interromper sou eu quem tropeça e sofre. Seu humor, atitudes, palavras são incertas e isso me irrita. Aliás, quem é você? Por que faz isso? A sua subjetividade me intriga e tudo se torna tão escuro e frustrante. Minhas concepções e interpretações não funcionam com você e nada que eu faça te chama atenção. Às vezes penso em desistir, mas é desistindo que você me resgata e me leva para sua teia mais uma vez. E voltamos à estaca zero. Sorrisos, brincadeiras, entendimentos. E quando penso que tudo irá se explicar, que a poeira irá abaixar, eis que ela cega meus olhos novamente.


Ontem, sentada na beira da escada entretida com os livros você passou e seu perfume se fez notar. Levantei os olhos timidamente e você me espiou de canto com um sorriso despreocupado. Resolvi entrar no jogo e não alimentar nenhum tipo de sentimento. Porém, a minha atenção era uma necessidade, mais que isso, uma vaidade sua. Você chegou, beijou-me a face e conversamos por horas. Pensei que estava finalmente te entendendo e me deixei levar pela situação. Mais um engano. Somente eu falava, eu respondia, eu me indignava. Eu, eu, eu! Eu tava lá, mas você não estava. Só ouvia e ria junto, não se manifestava. Queria estar e não se entregava.


A questão é que nem sempre vou estar à disposição de suas vontades. Não quero ser mais uma carta do baralho, e sim a cartada final. Não sei o que você quer ou espera, cansei de tentar descobrir. Você é um mistério, um segredo sem pistas. Uma história pela metade, um verso sem estrofe. Uma série de linhas cujas entrelinhas eu não consigo ler. Por isso eu me despeço e saio de cena. O roteiro já foi escrito e é a sua vez de falar.

This entry was posted on quarta-feira, novembro 18, 2009 and is filed under . You can leave a response and follow any responses to this entry through the Assinar: Postar comentários (Atom) .

14 comentários

"Por isso eu me despeço e saio de cena. O roteiro já foi escrito e é a sua vez de falar " . ( perfeito )
Amei Gabilene *
" Escrevendo.. Recriando.. "
beijoo

CARAMBOLAS, nossa senhora da bicicletinha, dai-me equilíbrio!

Que coisa mais linda, Gabi!

De verdade, profundo...
Afz, arrepiei aqui.

A necessidade de nos expormos, diante do inesperado que abala o coração, por vezes é complicado. Nem sempre sabemos o que sentimos ou se o que sentimos é algo verdadeiro e perdurável. O que é eterno? Será necessário apostarmos em algo novo? Há dúvidas constantes no sentimento de nós mesmos...e seu texto mostra um pouco disso, dessa admiração por outro, aparentemente escondido e velado, mas que é puramente intenso.

Parabéns pelo texto!

Seu texto tem ritmo, pureza, sentimento. Agarrou-me com força e mal percebia o decorrer das linhas.

Parabéns!!

Seu textome fez viajar por entre as linhas do real e do imaginário

Não encontro palavras para definir o que senti ao ler o texto, parabéns Gabi.

Parabéns, ótimo texto.

Tem gosto de "quero mais..."

Escondendo o jogo, boa escritora?

Parabéns! Consitente nas cenas, hibrido nos sentidos

Gabi, P-E-R-F-E-I-T-O !!!
Parabéns.
É minha história de vida...rsrs
Beijos

Todos precisamos do olhar do outro, não tem jeito. Mas é tão doloroso quando não sabemos interpretar o que esse olhar nos diz.
Você soube descrever com precisão a angústia da espera por esse olhar, palavra, resposta...

muito bom Gabi, me emocionei e me identifiquei muito. As vezes acho que o certo era sermos mais sinceros e diretos, mas se fosse assim, as dúvidas nao seriam tao gostosas. Um dia a gente descobre..
parabéns, beijo

tá bem essa meninaa vuuh... nda abaalaa a massafera da bahÊaa nn!!


se continuaar assim (in off lembre de mim qnd tiver rikaa) vai ficar ricaa!!

Que perfeição! O ritmo é uma das raras características de um escritor. A questão de prender a atenção, de fazer com que o leitor se envolva sem esforços; e vc conseguiu isso!
Além do texto ter uma descrição tão assídua que faz quem estar lendo, enxergar o lugar, as pessoas, a situação! E, mesmo sendo uma história inverídica, você conseguiu dar ao texto uma sinceridade tão grandiosa que o tornou real. Real por haver tanta clareza e sintonia nos fatos!

PARABÉNS, Bi! Notal 1000!!!

Uh! Acho que estou muito atrasada pra comentar, e não sei se você lerá, mas de qualquer forma, eu realmente gostei! E faz um bom tempo que você não escreve nada pra postar, em? É ótimo aprender e claro que você tem várias ocupações, mas não se esqueça de quando você fazia isso por puro prazer.

Você é ótima e mesmo que não pareça, eu estou acompanhando você, alguns passos atrás, porque desse jeito eu posso te cuidar. ♥

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