Após dias de viagem eles deparam-se com uma falha no caminho. A estrada foi desviada, mas ainda não chegou ao fim. As pedras impedem a passagem e o grupo é abalado. É chegado o momento de cada um focar seu objetivo e refazer a trilha, levando consigo apenas o peso que puder carregar em suas costas.
Os mais fortes sempre saem na frente, abrindo rotas e atalhos dentro da mata. Os mais frágeis seguem logo atrás, com o pouco de valores que conseguem levar. A cada passo, um espinho, uma dor, uma inquietação. Os instintos se apuram e as vozes se calam. A comunicação torna-se cada vez mais subjetiva e sensorial entre todos, ao passo que as sombras tomam as vistas com o anoitecer. Os animais gracejam e zombam ao pé do ouvido, e a escuridão não termina ao amanhecer.
O calor lateja nos ombros e braços dos cansados. Os passos tornam-se lentos e pesados, enquanto a mente adormece e a razão se cala. Não há mais empatia. O convívio faz dos fracos iludidos e isolados, em busca de uma saída improvável. O primeiro desiste e assim o grupo se parte. Inevitável.
Neste momento, os lados se formam e as barreiras aparecem. Os desistentes, fracos por natureza, disputam membros e tentam puxar os outros para dentro do buraco consigo. Estagnados, não buscam soluções ao problema. Ao contrário, criam novos e fecham os olhos para as janelas que se abrem. Os relutantes, fortes e condutores de suas próprias bússolas, continuam o trajeto por chãos instáveis, folhas selvagens e caçadores famintos. Não por descaso aos outros, mas por sobrevivência.
Os dias passam e o grupo se afasta. À medida que a lei da selva corrói o juízo, o labirinto se forma mantendo todos lado a lado, quase que por ironia. Os fracos, lentamente chegam. Os fortes já podem descansar. Os galhos e folhas que separam os grupos coçam suas mentes aos poucos. Os animais incitam seus sentimentos e os conduzem à desarmonia.
Ainda assim, os ouvidos recusam saber a verdade. O paladar saboreia dos venenos e se ilude na tentativa de ajuda. O cheiro é podre. Não há tato que agüente o peso das dores. Os olhos, sujos de areia, não enxergam a saída. O jogo se forma, e todos acreditam. Correm desnorteados crendo na vitória individual. Enganam-se novamente. E ao se repelirem é que se mostram tão semelhantes. O fato é que a estrada só existia enquanto grupo, e este se quebrou no primeiro obstáculo.